16.8.10

Calle desconocida

Gosto de ter livros de poesia por perto, quando sinto alguma inquietação, costumo abri-los e leio um poema atrás do outro até que ela passe. Isso sempre me faz bem.

Acho que nunca tinha lido poemas do Borges antes, gostei muito deste (em itálico, um trecho que achei especialmente belo):


Calle desconocida

Penumbra de la paloma
llamaron los hebreos a la iniciación de la tarde
cuando la venida de la noche se advierte
como una música esperada y antigua,
como un grato declive.
En esa hora en que la luz
tiene una finura de arena,
di con una calle ignorada,
abierta en noble anchura de terraza,
cuyas cornisas y paredes mostraban
colores blandos como el mismo cielo
que conmovia el fondo.
Todos - la medianía de las casas,
las modestas balaustradas y llamadores,
tal vez una esperanza de niña en los balcones -
entró en mi vano corazón
con limpidez de lágrima.
Quizá esa hora de la tarde de plata
diera su ternura a la calle,
haciéndola tan real como un verso
olvidado y recuperado.
Sólo después reflexioné
que aquella calle de la tarde era ajena,
que toda casa es un candelabro
donde las vidas de los hombres arden
como velas aisladas,
que todo inmeditado paso nuestro
camina sobre Gólgotas.

                                    (In: Fervor de Buenos Aires)

3 comentários:

Marly disse...

Oi, Karen,

Eu sou fã do Jorge Luís Borges. Mas confesso que não conheço muitos dos poemas dele (só uns dois). Achei essse muito interessante! A idéia das vidas dos homens ardendo como velas isoladas é perfeita. E o que dizer do caminhar sobre Gólgotas?
Isso me lembrou Schopenhauer com o seu "Viver é sofrer".

Beijão

Karen disse...

Marly, essa imagem é perfeita, não é mesmo? Você gosta de Schopenhauer? Li pouca coisa dele. Beijos!

Marly disse...

Oi, Karen,

Schopenhauer influenciou meio mundo, até mesmo Proust. Li
"O Mundo como Vontade e Representação", mas quero ler outra vez, pois fiz a primeira leitura de forma dispersiva, quando eu estava na faculdade (faz teeempo).

Beijão.